Como nasceu o gênio literário das Brontë?

Desde o sucesso da série Harry Potter, que crianças do mundo inteiro são estimuladas a escrever suas próprias histórias. Sempre à frente do tempo, as crianças Brontë já faziam isso há quase duzentos anos. Divididos em dupla os quatro escreviam séries tendo como heróis personagens históricos, poetas ou escritores. 
Tudo começou quando Patrick Brontë presenteou o filho Branwell com doze soldadinhos de madeira, a cinco de junho de 1826. Mesmo que o bondoso vigário tivesse trazido também um brinquedo para cada uma das filhas, foi a partir das aventuras vividas pelos bonecos de Branwell que as Brontë inventaram os primeiros romances. 
Charlotte, que àquela época já era a líder dos irmãos mais novos, foi a primeira a separar um soldadinho para si: “Este é o duque de Wellington!”, gritou. Depois foi a vez de Emily e Anne também escolherem um. Foi Charlotte ainda que, em dezembro do ano seguinte, criou o primeiro mundo imaginário em que os irmãos se refugiariam em suas brincadeiras: a Confederação de Glasstown. Mas foi Branwell quem propôs que registrassem o cotidiano da metrópole em uma publicação: a 'Blackwood's Young Men's Magazine', versão júnior da revista 'Blackwood's Magazine', assinada pelo pai. 
Em Glasstown havia de tudo: conferências, festas, assembleias, partidos políticos, intrigas pelo poder, motins, revoluções, guerras, códigos civil e penal e também tribunais criminais. O Estado tinha até um retratista, Edward de Lisle. Apesar de ter pintado várias celebridades do reino imaginário, o quadro mais famoso do pintor era 'Os Quatro Gênios em Assembleia', que não eram outros que os próprios irmãos Brontë reunidos em conselho. Ou em suas brincadeiras.
A princípio as narrações eram feitas em prosa, mas depois ganhou outros gêneros literários como versos e contos. Mistura de Babilônia, Paris e Londres a confederação era formada por quatro insulares: Wellington, regida por Charlotte; Sneaky, administrada por Branwell; Parry, governada por Emily, e Ross, dirigida por Anne. Pouco tempo após a criação, o país viveu sua primeira crise política com a saída de Emily e Anne para fundarem o próprio reino, Gondal. Atitude que não foi bem vista pelo irmão que as criticou em um editorial da 'Blackwood', de 1833. Em revanche, alguns meses depois Branwell e Charlotte também se afastaram para criarem Angria, na África. 
Nas sagas de Angria, a maior parte das aventuras girava em torno do clã do duque de Wellington, Arthur Wellesley, e seus descendentes, Arthur Richard e Charles Wellesley. Herói nacional desde que derrotou Napoleão Bonaparte na célebre Batalha de Waterloo, o duque povoou a imaginação dos cidadãos ingleses por muito anos após vitória. Patrick Brontë não fugiu à regra e transmitiu toda a veneração que sentia pelo estadista para os filhos. Nas histórias de Charlotte e Branwell, o famoso marechal seguiu fazendo muitas proezas que depois foram vividas pelos filhos dele. Como aconteceu quando o primogênito, Arthur Richard Wellesley, herdou do pai o trono de Angria. Quanto a Gondal, era um país de lagos, costas rochosas e neve, ao norte do Oceano Pacífico, regido por uma mulher, Augusta Geraldine Almeda (AGA). O reino tinha uma colônia, Gaaldine, ao sul, de clima tropical. A primeira referência a Gondal é datada de 24 de novembro de 1834. Mas não se pode afirmar quando Emily verdadeiramente começou a escrever sobre ele, devido o costume que tinha de queimar os poemas e contos que escrevia. 
Mesmo que as primeiras narrativas das crianças sejam ambientadas na Confederação de Glasstown, foi nos reinos imaginários de Gondal e Angria que o quarteto chegou ao auge da criatividade artística. A mais prolífica da fratria foi Charlotte. Em quinze meses a primogênita da família chegou a redigir nada menos que vinte e três romances além de poesias, resenhas, uma série dramática, perfis críticos e até artigos políticos. Os irmãos Brontë escreviam de forma independente, mas informando o outro do destino dado a algum personagem ou acontecimento. Atitude que terminava em atrito entre os jovens de vez em quando. 
As aventuras da série de Gondal e Angria se estenderam por muitos anos e hoje estão conservadas no Museu Britânico, onde podem ser vistas pelos visitantes em caderninhos de 3,8 X 6,4 cm. Durante muito tempo os documentos referentes aos dois reinos permaneceram desconhecidos. Até que em 1933 foram descobertos pelos descendentes de George Smith Jr, editor de Charlotte, e doados para o Museu Britânico. Cinco anos depois alguns foram selecionados e publicados. Mas a maior parte continua inédita. Se fossem lançados formariam um volume de mais de duas mil páginas. E pensar que tudo começou com doze bonequinhos de madeira...

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